Taca Preda

Atire a primeira preda. ♫ Eu, com essa dor de rim... ♪

domingo, 22 de novembro de 2020

Como é a dor de cálculo renal?


  

    Esse texto tem o intuito de ajudar a quem está com dúvidas: Como é a dor no rim? Estou com pedras nos rins? o que devo fazer se estiver?

 Sobre dor

    Cada indivíduo tem uma percepção diferente da dor. Qualquer dor. Mulheres sabidamente suportam melhor as dores. Por isso, segundo a sabedoria popular, a elas foi dada a função do parto. Mas o ponto é o que disse ali no começo: cada indivíduo tem percepções e mesmo lembranças diferentes da dor. Assisti a um documentário em que uma pessoa que sobreviveu a várias facadas relatava que a dor era como se tivesse levado uma surra a pauladas. Isso é bem deferente da dor que eu próprio imaginava, lembrando das vezes em que ia cortar alimentos e o dedo ia junto.

Intensidade da dor

    A mesma sabedoria popular decreta: pedra no rim dói mais que a dor do parto. Tenho que discordar. Meu parto... desculpe a brincadeira, tem leitor que não sabe: sou homem. Mas, como ia dizendo, o meu parto das pedrinhas sem dúvida foi doloroso, mas não foi a pior dor que senti. A pior dor da minha vida foi a que senti quando acordei da anestesia numa cirurgia de  ombro, mas esse é outro assunto.     

    Vamos lá: as pedras doem muito quando se desprendem do rim. A dor fica muito intensa quando a pedra se solta, cai no cálice e pelve renal (número 1 na figura) e percorrem a dolorosa viagem até a bexiga pelo ureter (número 2).



    Essa viagem até a bexiga pode durar minutos, horas, dias... No meu caso quando ela se manifesta não há remédio para cólica que resolva. Não adianta aquele cujo nome parece que "busca o pão". Só hospital e medicação na veia. Há momentos sem dor, com dor menor e momentos de crise, quando a dor é bem forte. Durante as crises não consigo dormir e não há posição que alivie a dor: sentado, deitado, de bruços, de lado, de cabeça para baixo... dói de tudo quanto é jeito. É o rim produzindo contrações para expelir a pedra. 

    Mas, no meu caso, não é uma dor totalmente incapacitante, tanto que já dirigi por mais de uma hora em direção a um hospital, onde depois fui internado. Dá para sentir onde a pedra está em seu caminho até a bexiga, e quando ela consegue passar a dor desaparece imediatamente.

Como saber se a dor é no rim?

    Escrevi este texto justamente por conta desta pergunta. A primeira vez que tive pedras confundi a dor com o que se diz popularmente como "mau jeito nas costas". Lembro até hoje: meados dos anos 80, vinte e poucos anos, saio do banho com um incômodo achando que ia passar em pouco tempo. Durou duas semanas, que é o tempo médio que levo para expelir uma pedrinha. Durante esse período tenho entre duas e quatro crises dessas que descrevi acima.

    Recentemente tive inflamação no nervo ciático e senti a mesma confusão com dor no rim. Portanto é fácil confundir o início de uma crise renal com dores comuns nas costas.

Como ter certeza?

    Melhor não arriscar e ir a um hospital. Como sempre, falo do meu caso: consigo buscar socorro mesmo durante a crise e hoje sei diferenciar uma dor de cálculo de uma dor nas costas. Infelizmente passei muitas vezes por este processo. Muitas pessoas não conseguem dirigir, sequer andar durante uma crise. Óbvio que nestes casos é necessário procurar ajuda, mas não dá pra dispensar o pronto-socorro.

    No hospital, nas vezes em que tive o diagnóstico, dois foram os procedimentos adotados: exame de urina para verificar a presença de sangue (nem sempre é claramente visível) e ultrassom. Antes o paciente recebe medicação na veia para aliviar a dor. Esses procedimentos não levam menos que duas horas. Isso depois que você foi admitido no pronto socorro. Importante destacar que todas as minhas experiências de internação aconteceram quando tinha convênios razoáveis. Nunca tive a experiência em hospital público, peço que quem tenha passado por isso, se possível, comente como foi.

    A importância de diagnóstico no hospital é evidente, e no meu caso serviu para constatar pedras grandes que obstruíam o ureter, aumentando a pressão no rim e colocando a integridade dele em risco. Os dois rins tiveram, em diferentes momentos, pedras grandes que exigiram internação. Conto um pouco minhas experiências nos textos sobre cateter duplo J, links aqui e aqui.

    Espero ter ajudado! Por favor, coloque suas dúvidas e descreva suas experiências nos comentários. Atenção: este texto tem caráter opinativo, baseado em experiência própria. Não substitui uma consulta a seu urologista.

Photo by Sam Burriss on Unsplash

         

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Voltando um tanto mais no passado

     


    No post mais lido deste blog, que definiu minha volta a escrever e o nicho a abordar, cito o texto abaixo. Antes de atualizar o que houve nos últimos anos resolvi reproduzi-lo aqui da forma como foi escrito. Este post também teve excelente visibilidade, mas por motivos pessoais desativei o blog. Segue na íntegra, sem edições. Do jeito que eu escrevia, com os preconceitos e incorreções políticas que possuía na época. Não repare na bagunça. O ano era 2007, o texto foi publicado em 01 de dezembro enquanto eu passava por mais uma crise por conta de pedras nos rins:

    "Fim do ano passado fui internado por causa do rim esquerdo. Este ano por causa do rim direito. Agora por causa do rim central. Blé, brincadeirinha pra dizer que tá tudo bem. Tô com vontade de escrever, então senta: fui internado nos dois casos porque meus ureteres são finos demais e as pedras que rolaram ficaram presas lá. A operação de retirada é simples e sem cortes: você recebe anestesia peridural, fica paraplégico por uma hora mais ou menos e nesse meio tempo os médicos fazem a festa contigo. Te põem de perna aberta numa mesa cirúrgica e inserem um cateter que vai até a pedra e tenta explodi-la. Sabe onde te inserem o cateter, não é? Pois é, ainda bem que a anestesia é geral, não queria estar lá pra ver os caras me estuprando a uretra. 

    Como o procedimento é agressivo ao ureter os caras colocam um cano ligando o rim à bexiga, senão corre-se o risco de que as paredes do canal se fechem ao cicatrizar. Esse cano é o tal do cateter duplo-J que citei aí embaixo. Minha história é complicada e comprida: sofri uma intervenção no rim esquerdo e fiquei duas semanas com esse catéter. A intervenção foi mal feita e a pedra continuou no mesmo lugar. Resultado: nova intervenção (um mês depois da primeira) em outro hospital e 30 dias com o cateter. No rim direito foram 60 dias com o cateter. Minha esperança era a de que o uso do duplo-J alargasse os ureteres, de forma que as novas pedras que eventualmente se formassem passassem pelos canais naturalmente. Pelo que sofri esses dias parece que funcionou. Os médicos são vagos sobre o que causa esta formação de pedras no meu caso. Mesmo analisando a composição dos cálculos não precisaram a causa, se genética, alimentar, se foi macumba, nada. Só me disseram pra não comer semente de tomate, que é rica em oxalato de cálcio, maneirar com leite e derivados e tomar muita água. Recomendo a todos que tomem água mesmo sem sede para não passar pelo que passei. 

    A quantidade de gente que encontrei na mesma situação me surpreendeu. Eu não bebia muita água, então para me forçar hoje em dia faço o seguinte: cada vez que vou ao banheiro me obrigo a tomar dois copos de água. Assim é certo que voltarei ao banheiro, tomarei mais dois copos e assim por diante. Além de diminuir o risco de formar cálculos sinto-me melhor com mais água circulando no corpo. Sobre a dor: encontrei uma mulher com o mesmo problema e ela confirmou que parto normal é até gostoso perto da dor dos cálculos. Nunca fiz parto normal, mas a dor é dolorida mesmo. Só com buscopan na veia passa. Mas o pior é o cateter... 

    A dor é menos intensa, só que até se você espirrar te machuca por dentro. Sem piadinhas sem graça, por favor. A urina parece cavalo de raça: puro sangue. A dor é similar à que os meninos (mesmo os que querem ser meninas) sentem quando levam pancada lá embaixo, só que é mais leve, afortunadamente. 

    E quando removem o cateter? Parentese. Pra retirar o cateter você é internado por algumas horas, recebe anestesia, te estupram de novo e tal. Aí da última vez resolvi brincar com o pessoal lá de casa depois que acordei do estupro. Liguei pra minha mãe: "É da casa do Sr. Laércio? É que ele não resistiu à intervenção e..." Puxa, pensei que ela fosse mais bem humorada e que conhecesse o filho que tem. Mesmo dizendo que era eu no instante seguinte ela ficou chorando do outro lado. Levei bronca de todo mundo. Tá louco, nesse mundo só tem gente sensível, deuzolivre, nem posso avisar pra minha mãe que eu morri em paz. 

    Voltando: quando removem o catéter é um troço de dar medo. Sai mais sangue que antes, só que é pior. Saem fragmentos das pedras que o cateter represou no rim. Saem pedaços das entranhas, dos rins, dos ureteres, da bexiga, do cérebro, é terrível de se ver, mas nem dói tanto assim. Aí acaba tudo no final e você fica bom. Além das dores físicas tem as dores burocráticas. Por ficar muito tempo afastado do emprego tive que receber da previdência, e foi uma trabalheira danada. Além disso, profissionalmente não foi nada bom ficar longe do trabalho. Não conseguia fazer música senão saia sangue. Bom, o que importa é que hoje estou muito bem, pronto pra ficar ruim de novo."

Foto que ilustra o post e representa os momentos de dor em que não se consegue comer, beber, rezar, só torcer pra pedra sair e levar a dor junto: Žygimantas Dukauskas on Unsplash

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Quem é vivo...

    


    ...sempre desaparece... Praticamente onze anos depois, resolvo voltar. Um casamento e uma filha de seis anos depois vim aqui tirar a poeira e descobri uma pequena jóia esquecida: o texto sobre duplo J, o Pedras, continuou rendendo muitos acessos! Isso me fez tomar algumas decisões. Antes, atualizações:

  • O casamento, infelizmente, não deu certo.
  • A carreira de baterista, infelizmente, não deu certo.
  • Qualquer carreira que escolhi nesses anos, infelizmente, não deu certo
  • Minha escrita, infelizmente, acho que melhorou, o que é um problema pois devo escrever mais.

    Das decisões, a mais importante é que, finalmente, defini a direção do blog: saúde. Ou doença, depende do ponto de vista. Ultrapassei os cinquenta e pretendo relatar e pesquisar sobre a alegria de ganhar uma dor nova de tempos em tempos.

    Acho que uma boa maneira de retornar é atualizando a história das pedras. Será o próximo post. Só adianto que nunca mais precisei ser internado.

Photo by Adam Solomon on Unsplash

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ainda vivo!

Sim, eu sumi do blog, me desculpem. 

Apesar de ter alguma coisa sobre cálculo renal no blog e a maioria dos acessos ser sobre isso, este é um blog sem linha definida. Bela forma de falar "escrevo o que quero aqui!", não? E na hora que quero, acrescentaria.

Agora vim aproveitar a audiência que consegui com a Nina e postar algo de interesse pessoal. Além de tudo que eu faço mal, ainda toco bateria. E vai ter show... Não dá pra contar agora a história de como consegui tocar com um músico de uma banda que eu curtia muito nos anos 80: Ayrton Mugnaini, do Língua de Trapo e depois também do Magazine. Terei a honra de tocar com ele no lançamento de seu novo livro:

Biografia de Elvis Presley será lançada no Café Piu-Piu

No dia 12 de janeiro a editora Nova Alexandria lançará O jovem Elvis Presley, livro que integra o projeto editorial Jovens sem fronteiras. A proposta desta coleção é mostrar a origem e o arcabouço que levaram estes jovens a se tornarem grandes personalidades. Entre os volumes já publicados estão O jovem Martin Luther King, O jovem Lennon, A jovem Pagu, O jovem Che Guevara, entre outros. 

Em O jovem Elvis Presley acompanhamos como um caminhoneiro e porteiro de cinema de Memphis tornou-se um dos pioneiros do rock’n’roll; como um dos primeiros “brancos que cantavam como negros” tornou-se o cantor mais popular e idolatrado de todos os tempos. Escrito por Ayrton Mugnaini Jr. – jornalista e músico, autor de Breve história do rock – o livro narra desde a infância de Elvis em Tupelo, passando por seu sucesso mundial em 1956 e o segue até o fim de sua vida.

O lançamento ocorrerá no Café Piu Piu, a partir das 21 horas com o show da banda Elvisongs, liderada pelo próprio Mugnaini. Uma grande oportunidade para relembrar as canções do rei do rock e conhecer sua história.


Ficha Técnica do livro:
Título: O jovem Elvis Presley
Autor: Ayrton Mugnaini Jr.

Café Piu Piu
Rua 13 de Maio, 134
Bixiga/ São Paulo
Tel: (11) 3258-8066
http://www.cafepiupiu.com.br/

terça-feira, 31 de março de 2009

Fim de semana, festa da faculdade da mulher. Ano de formatura, sabe como é. Churrascão, bebida à vontade, música alta seguindo a regra ( > som, <>

Aí é que tá... dirigir embriagado é crime. Coisa feia, molecada!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Ninguém entende

Outro dia (ontem) joguei no twitter:

"Não estou seguindo @ninguem."

Quem me conhece há algum tempo sabe que eu jogo umas frases bestas no ar. Pra mim e para alguns elas fazem sentido, claro, mas pra outros elas são só isso: frases bestas. Perdigotos filosóficos, já me disseram, e eu concordei.

O engraçado dessa vez é que 3 pessoas pararam de me seguir depois dessa frase. Talvez por levarem pelo lado pessoal e acharem que eu não me importava com o que eles dissessem. Cá pra nós, não me importava, acho que até por isso estou contando aqui. E também porque sumi do blog, tenho que dar as caras de vez em quando, não é? (Tudo bem com vocês? A família, as criança? Bem também, brigado.)

Se tivesse dito "Não estou seguindo ninguém" provavelmente eles também deixariam de me seguir. Só que essa frase é igual a "estou seguindo alguém", concordam? A negação de uma negação (não - ninguém) é uma afirmação. Pelo menos era no meu tempo.

Pois bem, em tempos de twitter, uma arroba faz toda a diferença. Existe o usuário @ninguém. Não o sigo. Logo, minha frase é apenas o de sempre: mais uma frase besta.

Vai ver eles pararam de me seguir só porque sou besta, mesmo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Pelados na Paulista


Arte: Murissocas

Ano passado fui com meu filho. Queria que ele participasse de um momento histórico desses no ciclismo urbano nacional. Uma das metas que fixei naquele dia é que tiraria toda a roupa esse ano se conseguisse emagrecer o tanto que queria. Mas tive um acidente (depois eu conto) e adiei este plano. Que sorte tem quem não vai me ver, hein?

Ano passado rolou até um papo com a Renata Falzoni que está no youtube. A matéria me rendeu uma certa notoriedade, cheguei até a ser reconhecido na rua. Não me bateram. Veja aqui.

Teve gente presa. Uma pessoa, entre dezenas de pessoas nuas. Isso é um problema? Valeu a pena? Leia a opinião do preso.

E por que esse bando de doidos (não sou corintiano :p)  fez isso? Leia a opinião deles, ora!

quarta-feira, 4 de março de 2009

O melhor povo do mundo

Acabo de receber um email contando onde a CET esconde radares em São Paulo. Recebi várias cópias de pessoas diferentes, o que sinaliza que essa informação é importante para estas pessoas, e certamente para alguns dos destinatários. 

Este email lembrou de outra situação que presenciei várias vezes em estradas diferentes. Há uma patrulha da polícia à frente. Os carros que passam por ela fazem sinais para os que vêm em sentido contrário avisando sobre a tal patrulha. Já vi carro velho e gente suspeita parando no acostamento e dando meia volta para evitar ser pego. Já vi motorista em altas velicidades diminuindo bruscamente pra fuir do flagra. O que os motoristas "solidários" fizeram? Provavelmente impediram a detenção de gente perigosa, a retirada de circulação de carros sem condições de uso e deixaram impune um às no volante assassino em potencial. Esse tipo de gente pode reclamar de violência nas ruas e de acidentes de trânsito?

Para que serve esse email me avisando que há radares novos escondidos? Para que eu siga a lei nesses pontos? O autor do email supõe que eu ande como um louco pra chegar ao próximo farol fechado? Me sinto ofendido. Sigo a lei, com ou sem radar. Não ando a velocidades superiores que o permitido para minha segurança e para a segurança das demais pessoas fora do meu carro quando estou dirigindo. Pedestres e ciclistas, papéis que assumo com frequencia cada vez maior, têm a minha preferência. Já pensei até em mandar fazer um adesivo: "Cuidado, eu sigo as leis de trânsito" pra ver se acalmo os pilotos que grudam na traseira querendo chegar logo no próximo congestionamento.

Outra aberração do email: avisar que há equipamentos instalados em faixas de pedestres. Que absurdo, não? Onde já se viu não poder parar em faixa de pedestre... Onde é que esse mundo vai parar. Já sei: vai parar dentro de um carro num congestionamento monstro, e bem em cima da faixa de pedestre.

Pra fechar com chave de ouro a mensagem há indicações de onde há máquinas que multam automaticamente quem está furando o rodízio. Ora, se o rodízio existe para melhorar o trânsito, por que dar dicas pra que ele seja burlado? Merecem todos ficar parados no trânsito, mesmo.

Esses dias li alguém que disse muito apropriadamente: "Querem acabar com a indústria de multas? Simples: parem de cometer infrações". 

Toda generalização é imprecisa, inclusive esta, mas a impressão que estão conseguindo passar é que todo motorista é, antes de tudo, um pulha.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pedras

O assunto mais procurado no meu blog antigo é cálculo renal (editado: postei o texto aqui). Mais especificamente um detalhe do pós operatório: o catéter "duplo J". Já passei por esse procedimento 3 vezes, então acho que posso dar uns toques a quem está passando ou irá passar por isso. Uma leitora comentou aí embaixo que eu a assustei, mas gostaria de tranquilizá-la: quando bem feita, a retirada do catéter é indolor. Vamos à minha experiência:
Infelizmente sou um bom produtor de pedras nos rins. Com uns 20 anos tive o primeiro episódio. Um cristalzinho de nada levou duas semanas pra sair, produzindo dores que me impediam de dormir e trabalhar. Na época os médicos receitavam um medicamento que deixava a urina grossa e colorida, e eu tinha que torcer pra pedra sair do jeito que fosse. Depois das tais duas semanas nasceu um cristalzinho lindinho. Os médicos já não receitam os remédios que alteram a urina, apenas recomendam o aumento no consumo de água. E a mesma torcida pra que a pedra saia antes que você exploda.
Só tive que passar por isso de novo 10 anos depois, com mais um cristalzinho que me tirou de circulação por uma semana. Depois disso praticamente todo ano tinha uma crise com maior ou menor intensidade, mas sempre expeli o cálculo sem problemas. Já me achava profissional na arte de botar pedra pela urina.
Aí veio uma crise mais forte. Como estava calejado, achei que o cálculo seria expelido naturalmente mais uma vez. A dor já estava normal pra mim. Era ter dor, ir pro hospital, Buscopan na veia, alívio e algumas horas depois o cristal, sempre minúsculo, era expelido. Nessa crise houve o alívio, mas nada foi expelido. A dor depois de uns dias era menor, mas insistente. E diferente. Era uma dor aguda nas costas, do lado esquerdo. Um ultrassom constatou que a pedra era bem maior e ficou alojada no ureter esquerdo, exigindo um procedimento chamado urolitotripsia para ser removido. Nesse procedimento o médico usa os orifícios naturais do corpo (não sou mais virgem da uretra) para chegar até o cálculo e tentar destruí-lo. O povo chama de "laser", mas não é assim que a pedra é fragmentada. No final do procedimento é colocado o catéter duplo J.
O catéter é um canudo rígido de material plástico colocado no ureter, que é um canal que liga o rim à bexiga. Segundo meus urologistas o catéter é usado para que o ureter sofra o processo de cicatrização após a retirada de cálculos que ficaram presos ali. A urina produzida pelo rim é levada à bexiga através do catéter. Sem o catéter o ureter eventualmente ficaria obstruído pois as paredes do canal poderiam cicatrizar coladas uma à outra. Isso provocaria a hidronefrose, ou seja, o rim produz urina mas essa não passa à bexiga por causa da obstrução do canal, provocando inchaço no órgão, insuficiência renal, aumento de substâncias tóxicas no sangue e a perda do rim em casos mais graves. Aliás, esse é o mesmo quadro de quem fica com uma pedra entalada, como eu fiquei. Outra utilidade do catéter no meu caso foi alargar o ureter para que pedras parecidas com a que causou o problema passem por lá numa nova ocorrência sem provocar uma nova obstrução.
Minha primeira experiência com o catéter foi muito ruim. As outras duas foram só ruins. Nessa primeira vez o procedimento foi realizado em Santo André, no Hospital Beneficência Portuguesa. A impressão de que a intervenção foi feita apenas pra conseguir uma grana às minhas custas foi enorme. Não houve problemas na cirurgia, mas o período do pós operatório foi claramente esticado para que houvesse pelo menos uma diária a mais. Quando voltei para consultar o urologista do hospital que realizou a cirurgia tive uma surpresa bem desagradável que reforçou a impressão de que a cirurgia foi um caça-níqueis. O urologista disse que o plano não cobria as consultas com ele, mas ele "faria o favor" de retirar o catéter depois de duas semanas. 
Duas semanas depois retornei ao consultório e ele pediu a uma enfermeira que retirasse o catéter. O procedimento foi realizado sem anestesia. Ele havia deixado um fio que saia pela uretra, fio esse que estava amarrado na outra ponta ao catéter. A extração do catéter é simples: a enfermeira pediu o impossivel - que eu relaxasse - enquanto ela puxava lentamente a tal cordinha.  É extremamente dolorosa a retirada do catéter desta forma, pois não dá pra relaxar com uma pessoa arrancando um canudo de suas entranhas, e os esfíncteres da uretra travam mesmo. Doeu o cacete pra cacete. Perdoem a linguagem culta. O catéter tem algo em torno de 40 centímetros e 15 minutos de dor pra ser retirado dessa forma.
Depois de uns dois dias de desconforto tudo voltou ao normal, menos por um detalhe: a dor continuava idêntica. Aguardem o próximo capítulo para saber o que houve. Hoje eu já falei demais e sei que pouca gente gosta de texto grande.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Viver é perigoso

Inevitavelmente leva à morte. Ir de um ponto a outro é perigoso. Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) ocorreram em São Paulo de janeiro a outubro de 2008 1.212 mortes:

569 pedestres
386 motociclistas
202 motoristas ou passageiros
55 ciclistas

Em números aproximados, dois pedestres mortos por dia. Dez motociclistas por semana. Cinco pessoas usando carro mortos por semana. Um ciclista a cada cinco dias.

Por que família e amigos insistem tanto em pedir a mim e a outros amigos ciclistas para que paremos de usar bicicleta como meio de transporte quando ocorre um acidente grave? Nunca vi alguém pedir a amigos, parentes, companheiros, namorados a pensar sequer em parar de dirigir após um acidente automobilístico. Pelo contrário, afinal a vida continua, não é mesmo?  Mesmo que você tenha atropelado alguém é perfeitamente justo e natural que continue a dirigir. Foi só um acidente, você estava atento, respeitando todas as leis de trânsito, não é? Além do mais pedestre que atravessa fora da faixa merece morrer, e lugar de ciclista não é na rua. Desculpe a ironia, mas uma hora cansa a falta de vontade para raciocinar de uma sociedade educada a manter a cultura do carro em uma posição tão valorizada.

A CET provavelmente vai querer faturar créditos com a diminuição do número de mortes de ciclistas, que ultrapassava de 80 nos anos anteriores. Mas a CET não move um dedo sequer para melhorar a situação. Essa diminuição é única e exclusivamente resultado de um trabalho de conscientização que parte dos próprios ciclistas. Insisto na idéia: quando cada motorista tiver a consciência de que quem vai à frente pedalando pode ser um conhecido/amigo/parente esta situação vai melhorar. Ações da CET favoráveis a ciclistas só virão quando as cabeças que a comandam mudarem, seja com a mudança de idéias ou de pessoas.

Não quero que todo mundo ande de bicicleta. Sei que é complicado, exige preparo, esforço,tem que sair da zona de conforto, tem que ter força de vontade, coragem para quebrar paradigmas e enfrentar adversidades. Sei tudo isso. Mas quero uma coisa extremamente simples das pessoas que não têm coragem ou vontade de usar bicicleta como meio de transporte: respeito pela minha opção, respeito pela minha integridade física, respeito pela minha vida. Estou cuidando dela, como várias mensagens populares recomendam. Não fazer ao próximo o que não desejar a si mesmo. Simples assim. 


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